A cena é extremamente comum: você escolhe uma legging, uma camiseta, um top, calça o tênis e sai para correr. Saindo na rua, você escolhe para qual lado da rua vai e foca nos pés, na respiração, na música, no treino que vai ser difícil, na lista de compras de mercado que deixou em casa, em qualquer coisa. O treino vai indo tranquilamente, até que você vê aquele cara ali na frente, te olhando. Você vai se aproximando, já pensando “não mexe comigo, cara, por favor”. Mais alguns metros e você vê que ele já está até abrindo espaço pra você passar, com um sorrisinho. Tá correndo pra mim, gostosa? Que delícia, já tá toda molhadinha. Lamberia esse suor todo. E você ali, sozinha, por sua própria conta, sem saber o que fazer. Continuar correndo é uma opção, mas e esse sangue fervendo e a vontade de voltar e falar impropérios para o cidadão? E a vergonha de ter ouvido isso tudo? E a culpa que você sente porque, realmente, essa legging é muito grudada no corpo e mostra mais do que o que é seguro para uma mulher sozinha na rua.
Infelizmente, grande parte dos homens e mulheres acham que esse tipo de assédio sexual é normal, que não faz mal à ninguém e que “Hey, aquela menina saiu assim porque queria mesmo era chamar atenção. Ela gosta das cantadas.”. Pra gente, estamos apenas confortáveis e bonitinhas para treinar. Pros outros, estamos deixando a calça grudada na bunda e a camiseta mais curta porque a gente quer mesmo é que encarem a nossa bunda e o short é curto porque a gente quer que olhem e falem das nossas coxas.
Esse tipo de coisa faz com que a gente queira desistir. Desistir de malhar, de correr, de sair sozinha para aproveitar o dia, só você e seu par de tênis. Quantas e quantas vezes eu, ao ir ou voltar da academia não quis morrer quando algum babaca passava e buzinava? Quantos “ô maravilha” não quis enfiar de volta na boca do cara e dar um chute no saco dele? Isso sem contar todas as vezes em que saio de madrugada de casa para ir à alguma prova e fico apreensiva por alguém fazer alguma coisa comigo no trem ou metrô?
Esse post do Lugar de Mulher dá alguns exemplos do que deixamos de fazer por causa do assédio e eu me identifiquei com vários, aposto que você também vai se identificar. Aí eu te pergunto: a gente merece isso? A gente pede por isso quando coloca aquela roupa super confortável e que faz a gente se sentir linda? Não, minha amiga, a gente não merece. A gente não quer. A gente não gosta. Pior: a gente tem nojo. NOJO. Alguém aí já viu uma mulher receber esse tipo de abordagem e querer beijar o cara? Claro que não.
Uma coisa muito legal que tem acontecido é que cada vez mais e mais, estamos falando no assunto. Mulheres estão falando o quanto isso incomoda e nos faz mal e homens tem mudado o comportamento. Claro que isso é um trabalho para muitos anos (talvez até gerações), mas quanto mais gente se conscientizando, melhor. Iniciativas para proteger as mulheres andam aparecendo aos montes e separamos duas para mostrar a vocês.
Chega de Fiu Fiu
O Chega de Fiu Fiu foi criado pela Juliana Faria, depois que ela foi assediada de uma maneira violenta em um Carnaval. Vale a pena assistir à essa palestra dela no TEDx Talks e conhecer a história inteira. A ideia da iniciativa é lutar contra o assédio sexual em locais públicos e outros tipos de violência contra a mulher. Você pode ler um pouco mais sobre nesse post do ThinkOlga.
No site, você pode pesquisar por ocorrências em sua cidade e até contribuir marcando locais onde sofreu assédio, com um pequeno descritivo do ocorrido. Também há a opção de denunciar algum caso que você tenha presenciado, para ajudar a vítima.
Atualmente está sendo filmado um documentário sobre o assunto. Você pode conferir o trailer aí em cima e, aposto, vai ficar muito curiosa para assistir o documentário na íntegra. Há uma campanha para arrecadar fundos para o projeto, que é todo feito por mulheres.
Vamos juntas?
Você está andando sozinha, a rua é deserta, você está morrendo de medo e ouve alguém andando atrás de você. Ao olhar para trás, vê que os passos são de outra mulher, tão assusta quanto você. Que tal perguntar pra ela se vocês não podem ir juntas, já que estão indo no mesmo caminho? Duas são mais fortes que uma, vocês vão ficar mais tranquilas e seguras. Essa é a ideia do Vamos Juntas, um projeto muito legal criado por Babi Souza.
Na página no Facebook você pode ler relatos de mulheres que toparam o desafio, sugeriram a desconhecidas que também pareciam assustadas que andassem juntas e adoraram a ideia. É simples de fazer e vai fazer com que vocês duas se sintam mais seguras. Sororidade, gente. Tá aí uma coisa muito importante e que a gente tem que praticar.
Talvez você seja do tipo que gosta de sair com tudo combinando, talvez o seu look esteja mais pra “abri o armário e peguei o que vi pela frente”. De qualquer jeito, você está sujeita a ser abordada por alguém na rua. Então, aqui fica o pedido: vamos lutar contra esse assédio, conversar e explicar para quem conhecemos que isso não é ok, sermos solidárias à outras mulheres que passam por isso e, principalmente, vamos brigar para que possamos, finalmente, correr/andar/sentar/viver sossegadas onde, como e quando quisermos.
Onde que eu assino? rs
Foda, né? 🙁
Tô adorando ler em vários lugares esse tipo de post sobre feminismo. Recentemente li um muito bom no Imaginatif (o foco é o feminismo, não o assédio, mas ainda assim): http://imaginatif.com.br/2015/09/17/coisa-de-mulherzinha/
Eu sofri com isso semana passada. Fui correr com minha camiseta cropped (sim, ela de novo!) e depois fui ao mercado. Santo Cristo, me senti um pedaço de carne.
Um beijo, Carô!
É uma merda, Livs. A gente se sente mesmo um pedaço de carne na prateleira, a coisa mais nojento. :/
Tô indo lá ver o post que você indicou!
Palmas, palmas! Muito bacana, é isso mesmo, precisamos mostrar que esse tipo de comportamento é inaceitável, ignorante e realmente nojento.
Olha esse artigo também:
http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/apr/07/turning-tables-sexual-aggression-everyday-sexism
Tô indo lá agora mesmo ver o artigo, Shendel. Valeu!
Post sensacional…
Correndo eu nunca sofri, porém em outras situações ja passei muito por isso, e fico revoltada, olho, volto, xingo, encaro, não tem jeito, sinto uma revolta tão profunda a ponto de querer agredir o desgraçado, mas infelizmente não é assim que vou conseguir combater esse tipo de atitude ridícula. Caralho isso é tão revoltante.
Também sou dessas, Gabi. Minha vontade é voltar e cortar fora o pinto do fdp. HHAHHAH
Já levei um tapa na barriga de um motoqueiro que me deixou vermelha por horas, doeu, fiquei com medo de ficar roxo. mas a culpa foi minha, afinal eu tava correndo na rua de short e top, sem camiseta.
Que mulher sai por aí de barriga de fora se não quiser ser apalpada (violentamente, já que a apalpada veio a 30km/h)???
Eu fiquei com medo, fiquei triste, fiquei puta e no fim fiquei determinada. Eu não vou botar camiseta pra agradar machista nojento que acha que tem direito sobre meu corpo. Não vou passar calor, ficar com nojo do tecido molhado de suor colado em mim, superaquecer, perder a concentração e ter um treino ruim só porque tem homem que acha que tem o dever de passar a mão em qualquer mulher que passa na rua e não tenha outro homem pra “proteger” ela ou mostrar que ela pertence a ele.
Ainda não tenho coragem de xingar de volta, ainda sinto medo quando um cara com idade pra ser meu pai me pega entrando em casa e diz que “sempre me vê correndo, me acompanharia se aguentasse”, mas não vou me esconder. Me protejo como posso, saio sempre em horários de rua cheia, corro em ruas iluminadas e com gente a pé, vario percurso sem rotina certa mas não vou desistir, não vou parar mesmo.
Bjus e continuem inspirando e movimentando essa mulherada!!!
É isso aí, Marcela!
Desistir a gente não pode mesmo. Tem é que se fortalecer e combater esse tipo de atitute.
Tô aqui revoltada com o lance do motoqueiro! :O
Esse post me representa! 😉 Obrigada por tocar no assunto!