Você não precisa ser viciado em séries para saber quem é Lena Dunham, criadora e protagonista de Girls, uma das séries de maior sucesso entre o público feminino nos últimos anos. Além disso, ela lançou a biografia “Não sou uma dessas” e ficou ainda mais conhecida. No livro, Lena conta várias histórias que mostram como ela passou por coisas muito loucas, teve que enfrentar preconceitos loucos por causa do corpo, do sexo, da profissão. Eu ainda não li o livro, mas tenho amigas que leram e geralmente ou amaram ou odiaram e, por isso, já me falaram dele.
Dei esse resuminho sobre a Lena só para comentar esse post acima, do Instagram dela, de quinta-feira passada. Para ficar mais fácil, fiz uma tradução livre:
Não sou de postar fotos tiradas por paparazzi, mas essa me enche de orgulho. Basicamente passei a vida toda odiando correr e correndo como um bebê de Pterodátilo. Eu me envergonhava e, honestamente, eu não confiava em mim mesma para escapar de um prédio em chamas ou até mesmo me mover rapidamente até um buffet. @jennikonner está dirigindo a temporada final de Girls e decidiu que, com a evolução de Hannah, ela poderia correr, então me arranjou uma sessão de treino com Matt Wilpers, do Mile High Run Club. Em uma hora eu já tinha uma relação diferente com essa torturante atividade. Eu me senti forte, rápida e orgulhosa. Eu não vou partir para uma vida de triathlon, mas é uma verdadeira alegria continuar a ficar mais conectada com o meu corpo e seus poderes.
E aí, ao ler isso, eu me identifiquei. Porque eu sempre fui a desengonçada que corria feito uma maluca. A desengonçada que não tem noção de espaço e esbarra em tudo, a que acha que não existe esporte bom para ela. Essa fui eu. Eu fui a Lena Dunham por anos e não sabia.
Quando eu era criança, fiz aulas de natação, futebol, dança e até de desfile em passarela (HAHAHA). Amava nadar, mas enjoei. Adoro futebol, mas era péssima jogadora. Nunca tive muita coordenação motora para dançar e, convenhamos, só nos anos 90 mesmo para eu querer ter aula de desfile. Parei com tudo isso aos 11 anos e, por longos 17 anos, me impus uma barreira. Me achava gorda e/ou desengonçada demais para correr, então fingia não ter vontade de fazer isso. Tudo porque eu tinha vergonha de correr na frente dos outros. Pois é.
Minha grande sorte foi ter tido o incentivo das amigas para começar a correr. No começo foi difícil. Além de não ter fôlego ou preparo físico para isso, eu não me sentia a vontade de correr na rua. “Olha a gordinha desengonçada tentando ser fitness”, é o que diriam. APOSTO. Na verdade, nem preciso apostar, porque acabei de lembrar que já ouvi uma vez um motorista gritando um “Vaaaai, gordinha” pra mim enquanto eu corria. Verdade verdadeira. E, antes que falem, eu sei que nunca cheguei a ser obesa. Mas não tenho problema algum em dizer que não sou magra e hey, basta ter um pouco mais de barriga/coxa/bunda/peito que você já é considerada gorda pela a maioria das pessoas. :p
Mesmo assim, me esforcei. Na época eu ainda morava em São Paulo e aproveitava a pracinha perto de casa para treinar. A praça era grande, cheia de gente comum correndo e lá eu não me sentia envergonhada. Fui treinando, evoluindo aos poucos, acertando passada e coluna e, quando vi, já tinha uma postura totalmente diferente ao correr, sem perceber. A vergonha de correr na frente dos outros ficou pra trás, mas só fui me ligar da mudança de postura quando saí para correr na praia com o noivo e ele me disse que eu estava correndo tão melhor que dava gosto de ver. Hahaha. Doido, né?
Então, quando li esse post da Lena, tive que vir contar isso por aqui. Correr não é só sobre emagrecer, embora boa parte das pessoas comecem a correr por esse motivo. Correr é sobre se autoconhecer. Correr é sobre focar em si mesma, sem pensar na opinião ou nos limites que os outros te impõem.
Correr realmente faz você se sentir mais forte, rápida e orgulhosa. O corpo mostra que tem forças para fazer muito mais do que você imagina, você chega a uma velocidade que não sabia que podia alcançar e, o melhor de tudo, se orgulha a cada conquista. Correr é mesmo um jeito de se encontrar. Tem gente que corre e descobre que é ali que pode desestressar. Tem gente que começa a correr e tem que aprender a ter humildade de aceitar os limites do corpo. Tem gente que começa a correr e tem a autoestima melhorada ao perceber do que é capaz. Tem gente que corre e descobre que aquilo não é pra ela, mas que provavelmente tem algum outro esporte que é e vai atrás disso.
Outra coisa linda nesse post da Lena: o tapa na cara que ela deu em mim, toda linda, correndo de legging e top. Lena não é magra e não se encaixa nos padrões de beleza convencionais, mas te desafio a dizer que ela está feia com essa roupa. Quantas e quantas vezes a gente tem vontade de tirar a camiseta durante a corrida e não tira, por pura vergonha? Que besteira, minha gente! Temos é que aprender a ligar menos para o julgamento dos outros e fazermos o que queremos. Enquanto deixarmos os outros decidirem o que podemos fazer, vestir ou até mesmo sentir, estamos presas. E esse é um aprendizado que eu só vem com o tempo e é uma luta diária para nos libertarmos dessas amarras, né? Eu sei, tenho que me desfazer de muitas delas ainda.
Ela não tá feia mesmo!!! O que me incomoda de tirar a camiseta na corrida tem outro nome: HOMENS, hehehe. Odeio todos.
Miche, essa é outra questão terrível, né? O quanto a gente não deixar de fazer por medo de ser abordada na rua? Eu MORRO de medo. 🙁
que texto incrível, estou começando a correr agora e tem me feito um bem danado e muitos aspectos, adorei o post
Que bom que está te fazendo bem, Julis! <3
Obrigada pelo elogio. 🙂
eu comecei a correr no fim do ano passado e tava indo bem até. mas aí foi só ficar um mês fora e perder a companhia das amigas nos treinos que eu já larguei mão de tudo. morro de vergonha de correr na rua porque sou toda atrapalhada e acho que todo mundo tá rindo de mim.
preciso tomar vergonha na cara e parar de colocar a responsabilidade das minhas ações/decisões (ou a falta delas, nesse caso) nas outras pessoas.
obrigada pelo post tapa na cara, carô! tava precisando 🙂
Si, acho que o mais difícil é a gente jogar a culpa em nós mesmas, né? É mais fácil arranjarmos desculpas em coisas que não podemos controlar (a falta de tempo das amigas para correr junto, a chuva, o frio, etc) do que assumirmos que deixamos de fazer alguma coisa por medo/vergonha/preguiça/o que for.
Espero que você volte a curtir a corrida ou qualquer outra coisa que te faça bem.
E foda-se o povo que pode (ou não) rir de você correndo. Você já vai estar muito melhor do que eles que nem isso fazem. 😀
Olha, que post incrível. Não corro (ainda) mas vou fazer isso agora. Depois de ler esse post deu uma voltade danada de sair por aí e lá vou eu. Obrigada mesmo pela inspiração, e me desejem boa sorte!
Eba, Fê!
Que bom que te animou! 😀
Carô, que post incrível! <3
A sociedade bombardeia a gente com tanta cagação de regra, que sem querer já estamos meio que "entrando no jogo".
Mas ao mesmo tempo, tô amando ver que hoje as pessoas estão virando o jogo e mandando um foda-se bem bonito para o que os outros pensam. O mais importante é como VOCÊ se sente consigo mesma. O resto é resto!
SEMPRE existirão julgamentos, SEMPRE existirão pessoas para apontar defeito X ou Y. E às vezes nem tem, nós que criamos neura. Então o melhor a fazer é relaxar e curtir!
Te admito MUITO. É super bem resolvida e tem algo que a grande "massa-fit" não tem: equilíbrio. Eu era muito mais neurótica com meu corpo e tenho trabalhado nisso. Nesse tempo todo de CM e de convivência, finalmente percebi que existe corpo perfeito: o meu! <3
Achei a Lena gata só de top.
Beijinhos! <3
É exatamente isso, Eri.
A gente começa a seguir padrões que cagam por aí e nem percebe! Quando vimos, já estamos condicionadas a sermos menos felizes por travas que nem sabemos quando e onde arranjamos. É foda! 🙁
O lado bom é que, aos poucos, a gente vai perdendo todas as travas.
E é isso aí, o corpo perfeito pra gente é o nosso mesmo. Com todas as imperfeições e, principalmente, todas as qualidades (que muitas vezes a gente insiste em não ver).
E nem vem, inspiração aqui é você. Tô tão cheia de orgulho por você, tô doida pra te dar um abraço beeeem apertado. Êta Japa porreta! <3
Muito legal! Eu particularmente, não conheço essa série, mas ainda assim tirei proveito de tudo que vc escreveu, e no meu caso, a paixão pela corrida é recente (4 meses), tenho uma luta constante com a balança, mas descobri que correr dá um prazer tão grande, quase um orgasmo, que tirei o foco do emagrecimento e tenho pensado nesse prazer que sinto após cada corrida. Sem pretensões de ser atleta, apenas curtindo o bom da vida!
É isso aí, Sheila! O negócio é correr por prazer, o resto vem com o tempo. 😀
PERFEITO!!! Como a gente se preocupa com o que os outros vão pensar ou falar. Muito legal falar sobre isso!!
Temos que falar cada vez mais, né? Quanto mais falarmos, mais e mais vamos percebendo o quanto fazemos isso. 🙂
Texto incrível!
Obrigada. <3
Somos todas, Lena! rs Eu sempre ironizei que em minhas fotos de corrida pareço um “filhote de mamute perdido” — ela foi mais criativa com o “bebê Pterodátilo” huahauhaua… Mas o importante é que cada vez aprendo a correr melhor e nada subsitutui essa sensação maravilhosa de PODER (é poder mesmo!) que a corrida nos dá, né? E quem quiser ficar apontando e fazendo gracinha, que fique, aposto que é o povo que não levanta a bunda do sofá pra nada e tá morrendo de inveja da nossa disposição! 😉 rsrsrs
Correr dá muito a sensação de poder mesmo, Ju! É uma delícia!
Obrigada por levantar essa bandeira! <3
Quanto mais e mais gente levantar, melhor. A gente já é tão cheia de regra maluca na cabeça, aí começa a correr e acha que tem que ser a fodona perfeita da corrida e esquece o porque de ter começado e gostado de correr. Lena me deu um tapão na cara com esse post.
Tenho que confessar que tenho uma puta preguiça de Girls. Assisti alguns episódios e simplesmente não rolou, por isso não pensei em elr o livro.
E dá um abraço: eu ainda sou a desengonçada que corre feito uma maluca AHAHAH
E a minha vergonha master de correr na frente do namorado? geeeente. Superei, ams ainda fico achando que não tenho onde colocar as mãos…
E realmente, Lena tá LIDNA só de top e eu me borrando de vergonha de correr uma camiseta croped ontem no parque… tapa na cara bem dado!
Adorei, Carô!
Nunca assisti nem um pedacinho de um episódio, Livs! Hahaha.
Mas é impossível não ter ouvido falar da mulher, né? Pelo menos no meu FB ela aparece algumas vezes por semana. Hahaha.
Ela tá LIIINDA de top e aposto que a gente também ficaria. APOSTOOOO.
Aposto que você de cropd no parque tava bonitona. <3
Carô, me identifiquei muito com seu post, com suas palavras e com a Lena! Por ANOS também fui a gordinha tentando correr 20 metros sem morrer pondo os bofes pra fora! O importante de tudo isso é, que mesmo gordinha e tentando correr, superamos a gordinha que adorava ficar sentada no sofá comendo pizza e bebendo refrigerante! Viva às gordinhas que correm! <3
Exatamente, Gabi! <3 <3 <3
Achei maravihoso o post! Parabéns!!!!
Mulherada !!! Cada dia os posts estão melhores !!!!
Obrigada por compartilharem com a gente coisas tão íntimas !
Pra mim , corrida é superação ! Tenho problema no joelho , e estou disposta até a fazer cirurgia para não deixar de correr !
Demorei para achar um esporte pra chamar de meu ! Corro pq sei q sou capaz de superar o que vier pela frente !!!
Adoro vocês !! Bjs a todas !
Obrigada pelo carinho, Lucimara!
Estamos aqui na torcida para tudo se resolver com o seu joelho. 🙂