Dia Mundial do Coração

Como esta seu coração? Você já fez o check-up anual?

Hoje, dia 29/09, é o Dia Mundial do Coração. As doenças cardiovasculares afetam anualmente milhões de vidas.

Como corredoras, muitas vezes temos algumas dúvidas em relação ao coração, quais os riscos e benefícios que a pratica de atividades físicas trazem e aproveitando a data, fizemos algumas perguntas  para a fisioterapeuta e especialista em Cardiologia, Carla Crocci.

1) Quais hábitos são recomendados para ter um coração saudável?

Diferente do que a maioria das pessoas pensam, não existe necessidade de mudanças radicais para ter um coração saudável, a maioria deles são hábitos simples, que somados a pequenas atitudes fazem uma grande diferença. Deve-se: não fumar, realizar atividade física rotineiramente, controlar pressão arterial, nível de glicose, nível de colesterol, adotar uma dieta balanceada e manter o peso corporal adequado (IMC – Índice de Massa Corpórea de 20 a 25).

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que a cada ano 17 milhões de pessoas morrem devido a problemas cardiovasculares. Hoje pesquisadores afirmam que pessoas que seguem pelo menos cinco das sete recomendações, tem 51% menos chances de morrer por problemas cardíacos.

2) Quais os benefícios e riscos da prática da corrida para a saúde do coração?

A ideia é correr para manter ou ganhar saúde, e quando estamos falando sobre correr, o músculo que mais se beneficia com a prática é o cardíaco, contudo, muitos problemas cardíacos e circulatórios são “silenciosos” porque não apresentam qualquer sintoma, a menos que se realizem exames específicos para se procurar por eles, então, forçar o organismo a trabalhar em altas intensidades, pode vir a potencializar o aparecimento de alguns desses males.

Os benefícios são muito maiores que os riscos quando estamos falando de corredores (pessoas que tem a corrida como principal atividade física). Corredores apresentam um nível decrescente de risco cardíaco (com performance máxima de 10 km), diminuição no risco de doenças coronarianas, redução no risco de infarto do miocárdio, diminuição para as chances de procedimentos de revascularização e ocorrência de angina (dor aguda no peito em decorrência da falta de oxigênio no coração).

Os riscos são raros, porem presentes, normalmente associados ao esforço cardíaco excessivo, e podem variar desde episódios silenciosos de infartos (pessoa não percebe que infartou), arritmias, até mesmo morte súbita. A ocorrência de complicações cardíacas e circulatórias durante o exercício é uma realidade, e corredores devem possuir um mínimo de conhecimento sobre o que acontece com este órgão durante o exercício, respeitar seus limites e realizar a prática monitorada, com orientação e acompanhamento de profissionais adequados, e assim fazer da atividade algo que faça bem para você, para a sua saúde, para o ego e até mesmo para a sua vida social.

3) Quero começar a praticar corrida ou alguma atividade física, quais exames são necessários para iniciar?

Os exames necessários são classificados em três grupos: cardiovascular, metabólico e biomecânico. Quando mais completo o conhecimento do estudo funcional do corredor, menor serão os riscos. São eles:

CARDIOVASCULAR: ergométrico, ergoespirométrico (cardiopulmonar), eletrocardiograma simples (ECG), ecocardiograma.

METABÓLICO (EXAMES DE SANGUE): hemograma, glicemia, dosagem do colesterol, sódio, potássio, cálcio e magnésio, uréia e creatinina.

BIOMECÂNICO: teste de pisada e cinemático.

4) Pessoas com prolapso de válvula mitral podem praticar a corrida da mesma forma e intensidade que pessoas que não tem?

Cerca de 5 a 10% da população mundial estima-se que tenha prolapso de válvula mitral, que é um alteração “de nascença”.

Muitos pacientes (maioria deles, mulheres) são totalmente assintomáticos enquanto outros podem apresentar inúmeros sintomas. As queixas mais comuns são as palpitações e a síncope (devidas a distúrbios do ritmo cardíaco), dor de cabeça (cefaléia), dor torácica, falta de ar e fadiga, sendo esta última a mais comum. Os portadores de prolapso mitral podem concomitantemente apresentar disfunção do sistema nervoso autônomo e o quadro pode se associar ao Transtorno do Pânico, à Ansiedade e à Depressão.

A prática de exercícios físicos por indivíduos portadores da disfunção, embora não curem o defeito anatômico da válvula, melhoram as funções cardíacas e asseguram uma melhor qualidade de vida, contudo, a intensidade não deve ser a mesma, normalmente submetemos esses pacientes a performance máxima de 10km, em velocidade variável, de acordo com as queixas apresentada e com rotina máxima de 3 vezes por semana, além de mantê-los em acompanhamento de especialistas e com realização de ecocardiograma de rotina.

5) Quais os cuidados que pessoas com hipertensão devem ter para praticar exercícios como a corrida?

Quando um hipertenso mostra interesse em correr, seja para seu lazer ou para tratar a hipertensão, deve obedecer alguns cuidados, apenas para que a pressão não se eleve mais ainda durante a prática.

A corrida, como todas as formas aeróbicas de exercícios, deve ser feito de forma esquematizada, limitada (sem excesso de esforço ou atividade cardíaca máxima) e regular, pois eles são normalmente, portadores de hipertrofia do ventrículo esquerdo, e esta trofia muscular pode se agravar/aumentar com a realização da atividade de forma inadequada.

Sendo assim, os cuidados são simples: sempre praticar a atividade com orientação (protocolo de 40 minutos, cinco vezes por semana, intercalando pequenas corridas (trote longo ou correr curto) com caminhadas), realizar exames clínicos regulares (os mais importantes para este tipo de corredor: eletrocardiograma, testes ergométricos e todos os metabólicos), manter-se hidratado durante todo o percurso e controlar o estresse mantendo seu foco na atividade, passada, ritmo e tempo.

Carla Crocci – Fisioterapeuta com aprimoramento em Pneumologia (Respiratória) pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e especialista em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da USP – InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas).