Hoje começamos um relato diferente da prova UAI, a Ultramaratona Internacional dos Anjos, que acontece todo ano em Minas Gerais, na região de Passa-Quatro, a Adriele, leitora e amiga querida participou da prova como apoio da atleta Fabiola Otero, que não só completou a distância mais difícil, mas dobrou a mesma! Mas não vamos entrar em detalhes… deixo pra Dri e para cada um dos participantes desta imensa conquista relatarem para vocês! 😉
Só podemos antecipar que vale muito a pena ler sobre a conquista da Fabiola e ficar com vontade de fazer parte de uma UAI, seja como apoio ou correndo. 😉
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Olá, meninas! Sou a Adriele e vou contar como foi minha experiência na UAI. 😉
No dia 01/07, aconteceu a Ultramaratona Internacional dos Anjos em Passa-Quatro, a prova é realizada em estradas de terras encravadas pelas montanhas de Minas Gerais. Uma verdadeira expedição pela Estrada Real. Uma das poucas provas brasileiras de ultramaratona, que qualifica para Mont Blanc com 6 pontos (a meca das corridas de montanha).
A UAI tem as distâncias de 25km fast, 65km easy, 95km medium, 135 km hard e 235km x-hard e é realizada pela UltraRunner. A Fabiola Otero, uma grande amiga, gosta de aventura sem limites e o sonho dela era dobrar os 235km x-hard da UAI. Logo, o desafio era fazer 470km em 7 dias. Para tal feito, foi necessário ajuda financeira de empresas (Bananinha Paraibuna, Nasdaq, Overseg, Assessoria Carlos Mello, Umey e Zion) e amigos que compraram quilômetros. E também foi necessária uma equipe de apoio (o pessoal que acompanha o atleta por muitos kms, sabe a hora de hidratar, alimentar, incentivar, elogiar e também dar bronca, a hora de descansar… E também divertir o atleta).
E aqui abro um parênteses… “O ultramaratonista e seu apoio passam vários dias sem dormir, sem comer direito, enfrentando frio, calor, chuva, lugares estranhos, montanha, trilha, barro, areia, asfalto, subidas intermináveis, descidas desgastantes. Sim, e o apoio também acompanha o atleta correndo (para quem não conhece, esse é chamado de Pacer)”.
Feitas algumas explicações, vou contar como foi a minha experiência como apoio, mas também a de todos que participaram do desafio da Fabiola. Seria impossível contar a transformação individual de cada um contando só a minha versão, então resolvi compartilhar a visão da atleta Fabiola e do apoio.
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UAI por Carlos Mello
Equipe de apoio e treinador
Não sou muito de escrever relatos sobre provas, principalmente por ser um cara que vive mais do que conta o que viveu, mas vamos lá.
No final de 2015 fui surpreendido com uma decisão de uma amiga que era de dobrar uma das Ultramaratonas mais difíceis do país. Estávamos eu, Fabiola Otero e minha esposa Marina em casa quando veio o o desafio e o olhar de PQP essa mulher é doida, rs. 😛
Eu que gosto pouco de desafios estava pronto para tornar aquilo que achei doido, possível. Como treinador, tenho um dilema: Se você realmente quer, tenha certeza que é possível! Conhecendo quem é Fabiola e acompanhando tudo o que aquela mulher guerreira, determinada, humilde e principalmente uma das atletas que mais inspiram não só pelos feitos, mas por ser a ultramaratonista que conheço mais humana, caridosa, amiga que se abdica do que tem para confortar seja lá quem precisa, eu tinha certeza que seria possível.
O papel da equipe de apoio funciona exatamente como uma equipe de F1. O atleta deve apenas se preocupar com sua corrida. Alimentação, hidratação, trocas de roupa, medicamentos, alongamentos, psicologia, pace, descanso, é de responsabilidade da equipe, e por isso, sua escolha exige muito cuidado e qualidades únicas em cada integrante.
Priscilla Lopes, atleta que se envolve com o coração, não mede esforços, não tem limites, organização impecável no carro, encontra caminhos, incansável e pacer mais piadista;
Laura Uehara, fisioterapeuta conhecida como mãos de fada, consciente e conservadora, focada, segue a risca as estratégias e como pacer, identifica a necessidade no exato momento;
Adriele Gonçalo, ligada no 360, novata sempre disposta, organizada com o carro responsável pelas atualizações nas redes sociais e pacer mais empolgada;
Leandro Rovai, motorista, chefe gourmet (quando o cardápio permite), amigo, pacer que surpreende a cada prova que o convido (sempre acho que ele não vai aceitar o próximo convite)
Marina Mello, atleta, pacer que se doou mesmo tendo feito os 95km da primeira etapa da prova, focada, determinada a realizar o sonho da amiga que sempre a inspira ir mais longe.
Equipe montada, vamos ao desafio!
Segunda feira dia 27/06/2016 as 8h foi dada a largada para o desafio. Nos primeiros 5km do percurso tive um sinal de que eu deveria ficar mais atento do que imaginava já que uma falta de atenção fez com que atleta e pacer se perdessem, aumentando 2h a mais na programação para a nossa chegada em Passa Quatro. Broncas dadas e rota corrigida, continuamos nossa prova por entre as montanhas de Minas Gerais. O clima da equipe estava muito bom, mas muito bom mesmo, atleta sempre focada e sorridente, pacers funcionando de acordo com a programação, alimentação e hidratação impecável fez com que adiantássemos 4hs, permitindo um descanso maior em um dos locais mais bonitos da prova e mais desafiadores para chegar. A temida Cachoeira dos Garcia por volta do km 105. A vista, as cachoeiras, o esforço para subir e a atmosfera acima das nuvens compensam o desafio de encarar os aproximadamente 1800 metros de altitude.
Mais da metade da prova vencida, o clima ainda era o mesmo. Piadas, risadas, dancinhas ao som de Carreta Furacão embalaram nossa 1ª volta. Fabíola se mostrava extremamente focada, incrivelmente feliz e alegre e eu me preocupava apenas com uma dor no tornozelo que vira e mexe ela sentia. Ganhamos mais 1 integrante na equipe de apoio; um cachorro que apelidamos de Faísca nos seguiu a partir do km 150 até o final. O clima estava tão perfeito durante a prova que minha maior preocupação passou a ser que o meu novo amigo não queria comer e nem beber água, rs. 😛
Faltando 12 km aproximadamente paramos para fazer uma placa “fictícia” para que a Fa olhasse…escrevemos “Bora Fuka, faltam 12 km” e ela deu risada… Fuka foi o apelido dado pela minha esposa Marina à essa incrível atleta que mesmo sem se alimentar e hidratar bem, corre como poucos assim como um Fusca que mesmo com combustível ruim, sobe paredes, rs… por incrível que pareça, mesmo cansada, ela continuava sorrindo e nos passando aquela força que quem está ao seu redor sabe que ela tem e de sobra. Avistei o paralelepípedo, ufa! Na hora pensei que como a Laura e a Dri não fariam a 2ª volta seria bacana deixá-las correndo com a Fa para cruzar a linha de chegada. Ali, meu trabalho tinha sido concluído com sucesso e muita, mas muita felicidade. Era hora das meninas, Pri, Laura, Dri e Fa cruzarem juntas a linha de chegada.
Linha de chegada essa que ainda não tinha um pórtico montado, mas como se trata da Ultra Runner (Paola, Newton e Fernando) estavam lá emocionados segurando a faixa de chegada para que a Fa cruzasse. Corri para estacionar o carro e me lembro de esperar as meninas que vinham felizes, gritando, curtindo, sorrindo e correndo pelos últimos metros dos primeiros 235 km. Passa Quatro, chegamos! Fim da 1ª jornada e trabalho concluído.
Muitos amigos, atletas conhecidos de longa data perguntando como estava o caminho… tirando dúvidas sobre o apoio, sobre como tinha sido nossa experiência com a 1ª volta. Eu sabia que a 2ª volta seria ainda mais animada pois já estaríamos dentro da prova oficial, junto com os outros atletas. E todos poderiam ajudar e manter nossa atleta motivada e focada. Recebemos muita energia positiva e recarregamos a bateria para começar a 2ª volta. Antes da largada, fiz minha oração em frente à igreja de Passa Quatro pedindo que todos os meus atletas e amigos conseguissem vencer seu grande desafio pessoal.
Fabíola começou em ritmo forte até o km 30. Nesse trecho, até o km 95 estávamos eu e Rovai como apoio. Os demais apoios entrariam após completar a modalidade 95km. Apesar de nunca ter participado como pacer, tomei a decisão de colocar o Rovai para segurar o ritmo e economizar energia, afinal de contas, a prova começa mesmo após o km 135, onde o corpo fadiga e a mente fica responsável por guiar seus passos até o final. Essas mudanças de estratégia ao longo da prova são cruciais e fundamentais para fazer com que o atleta conclua seu desafio com sucesso.
Durante todo o percurso encontramos vários atletas que se mostravam admirados e principalmente dispostos à motivar nossa atleta e isso foi combustível para o 1º dia. A noite chegou e ao ver que a Fá estava cansada, paramos para o descanso programado em Airuoca. Foi uma parada de 3h, encontramos o resto da equipe, e sim, fiquei parado na praça da cidade esperando meus outros atletas chegarem da prova de 95 km até às 2h. Minha mente não descansa enquanto todos eles não vencem seu desafio. Nesse momento entraram na equipe minha esposa, Marina e a Priscilla que fez parte da 1ª volta, apoiou os atletas nos 95 km junto com a Laura e Adriele e voltou para nos ajudar a chegar ao final.
Na 2ª subida a linda Cachoeira dos Garcia, sentimos os ombros congelarem, mas manter o bom humor e distrair a atleta é função do pacer e lá fui eu cantando e fazendo piadas… Apreciamos mais uma vez o nascer do sol de lá de cima e seguimos lutando contra uma forte dor na canela que insistia em incomodá-la.
Seguimos em frente, ora caminhando forte e hora trotando. Ao cair da madrugada, fizemos nossa 2ª parada para descanso desta vez no carro e dormimos em 5, apertados para deixar a Fá esticada e confortável. Nessa noite, a visita dos amigos Xixo, Adriele e Ricardo Campos; esse último havia completado os 235 km em dupla; foi essencial para trazer alegria e força à toda equipe! Seguimos em frente revezando pacers, pois daí em diante deixar nossa atleta sozinha estava fora de cogitação. Faltando menos de 30km, nossos amigos atletas da família que criamos na Assessoria Carlos Mello fizeram uma grande surpresa ao aparecer no meio do caminho e emocionar nossa atleta. Confesso que me emociono sempre que testemunho a união dessa galera que nos seguiu até aqui, que se mexeu e não mediu esforços para tornar o sonho da Fá realidade. Mas voltando ao final, vi que estávamos com o tempo programado para a chegada um pouco arriscado e entrei nos últimos 30 km para tirar da Fa aquilo que tinha certeza que ela poderia dar: nada menos do que sua força.
E assim entramos em Passa Quatro 1 hora adiantados no planejamento, pedi que todos fizessem uma “asa fictícia” ao redor dela já que a o símbolo oficial da UAI é esse e acompanhei com muitas lágrimas nos olhos a nossa rainha das ultras cruzar a linha de chegada. Ela realizou seu sonho e eu senti uma realização profunda não apenas como profissional, mas como pessoa por testemunhar essa vitória pessoal dessa monstra Fabíola Otero.
UAI por Adriele Gonçalo
Equipe de Apoio
Foi um misto de emoções. Há um ano descobri quem era Fabíola Otero, sempre a observei em provas. Normalmente, só homem na maior distância e a Fabíola. Sempre achei sensacional sua força e como motivava outros atletas. Inspiração, uma referência de corredora que desejo me transformar. Sabe quando temos uma ídola e não imaginamos conhecer?
Eu, até então só corria meia-maratonas. Em março mudei de assessoria, não fazia ideia que a Fabíola treinava funcional na mesma assessoria. O destino tem dessas de pregar peças. Conhecemos-nos em um treino de montanha. No final de maio, a Marina me chamou para ajudar a Fabiola transformar seu sonho em realidade. Inicialmente, ações de marketing para pleitear os custos de #dobraruai. Logo, aceitei e começamos as ações, foram conversas infinitas, mídia kit, posts, e-mails e a cada dia, transformava em uma amizade e aprendizado. Duas semanas antes da prova uma pessoa que iria fazer o apoio na primeira volta, por motivos pessoais, desistiu do apoio. Quando a Marina me perguntou: Você quer fazer o apoio da Fa na primeira volta? Eu, nem pensei. E já respondi, com certeza. Sou extremamente ansiosa e na largada eu estava uma pilha, larguei com ela e a instrução era prestar muita atenção nas setas amarelas. Com menos de 5k de prova, engatamos um papo e não vi uma seta, em uma bifurcação. Resultado? Nos perdemos e corremos mais de 10k, o tempo passando e nada do carro de apoio, nosso combinado era se encontrar depois de 3k. Pedimos água em uma casa e perguntamos aonde aquela estrada chegaria. Descobrimos que a estrada acabava em uma trilha para Pedra da Mina. Resolvemos voltar, nessa hora o desespero bateu, estávamos logo no começo do desafio. E se perder não estava nos planos. Encontramos o carro de apoio e voltamos para o percurso.
A Uai foi uma experiência inesquecível. Nunca gostei de acampar, ficar sem banheiro, sem secador ou lugar para dormir. Era bem fresca :P. Passamos três dias no caminho, por trilhas, serras, asfalto e diversas cidades. Sem banho, dormindo pouco, sem hora para comer.
Ao longo do caminho fomos nos dividindo entre os kms como pacer. Aprendi muito como pessoa e atleta. E o que é ser apoio. Saber motivar o outro, quando a energia acaba. Não perguntar o que o atleta quer, saber exatamente o que ele precisa naquele momento. O atleta que se sujeita a fazer uma ultramaratona, deve ter em mente, que vai doer. A dor sempre chega, a diferença é como irá lidar com ela. Os perrengues são diversos, desde muito sono, tombos, bolhas, fadiga, cansaço, esgotamento mental. A maior experiência de apoio na ultra é saber ter paciência, você vai aprender a caminhar, a se mover com um passo na frente do outro. Você vai aprender a curtir a jornada. As paisagens do caminho. O céu estrelado.
Eu morria de curiosidade de correr à noite, sempre imaginei como era ser guiada apenas pela luz da lua. A sensação é de liberdade, você e a luz da lua te guiando junto com a handlamp. Além disso, tive certeza que a prova que preenchi como sonho ao entrar na assessoria, nunca fez tanto sentido. Sou extremamente grata por ter participado da realização desse sonho. Ao Carlos Mello (que foi literalmente um pai, professor, amigo, psicólogo, comediante, dançarino) que apelidei de GPS, pois ele passou 470km recalculando rota e estratégia. Sabia exatamente como extrair nosso melhor, ali naquele momento principalmente nas dificuldades. Aprendemos com os perrengues, a ver a solução e não se concentrar no problema. Correr é ato mais simples que existe, deixar o movimento e endorfina ir completando a alma.
A prova foi um divisor de águas, me fez pensar, em como precisamos de pouco para ser feliz. Estava há bastante tempo para tomar uma decisão profissional e não conseguia. Voltei da #uai com a coragem para a tomada de decisão. Autoconhecimento e resiliência é melhor forma de qualificar uma prova de Ultramaratona.
Depois do apoio corri a modalidade de 25km fast da prova oficial, uma prova linda, com subidas generosas até km 16. Largamos na cidade de Passa-Quatro e chegamos a Itamonte.
A chegada da Fabíola foi um dos momentos mais emocionantes que já vivi, ao avistar o pórtico. Faltando poucos kms para cruzar a linha de chegada, um filme foi passando, com cada sorriso, com cada perrengue, cada pôr do sol, cada amanhecer gelado, cada caminho percorrido, cada amizade feita, cada força e mensagens enviadas. Não sabia como seria a jornada, mas tinha certeza que ela encerraria ali, cruzando a linha de chegada e deixando marcas evidentes em todos.
Um conselho? Se aventure nem que seja como apoio em uma prova de Ultramaratona.
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Amanhã tem a segunda parte, com mais relatos do pessoal que fez o apoio e da própria Fabiola, não deixem de conferir!
Parabéns à todos ! – Neste ano farei a UAI 235- Solo , mandei meu currículo para ver se seria aceito e fui ! – Então resolvi encarar esse desafio.
Meus treinos já começaram e estou colhendo todas informações dobre a prova , esse texto foi de arrepiar !!!
Sucesso !